para M. M de mãe. M de mulher. M de marida.

M, este é para ti.
porque te fiz chorar.
porque os teus olhos incharam, ao ponto de nem conseguires ver a fantástica.
que já está no fim á mais de um mês.
porque choraste desesperadamente. mas nos braços de alguém, que estava ao teu lado, finalmente, ao fim de tantos anos.
tens alguém ao teu lado. nos braços de quem podes chorar. finalmente.
choraste porque te falei coisas que te doem.
porque te lembrei de coisas que não te queres lembrar.
coisas que queres esquecer.
culpaste-me por te ter dito o que sentia.
como sempre te disse ao longo destes anos. em que te vi. em que te senti. sempre a morrer. aos bocadinhos.
em que talvez tu nuca tenhas tido a capacidade de me ouvir. a não ser agora.
e por isso só agora te tenha magoado.

M de mãe, M de mulher, M de marida.
posso voltar a fazer-te chorar.
podes vir a perder mais um episódio da fantástica que está quase acabar, mas que ainda deve durar mais uns dias,
podes voltar a acusar-me
podes até me odiar, por instantes.
mas vou voltar a dizer-to.

foste casada e tiveste uma filha.
não te conheci nessa altura.
viajaste para moçambique onde toda a tua vida se transformou.
onde parte de ti acordou e outra parte morreu para sempre.
divorciaste-te. porque optaste pela verdade.
deixaste a filha com o pai. pelo bem dela. por ela.
contaste-me tu.
nada sabia de ti nessa altura.
só mais tarde.
já tinhas uma casa em gaia. que um dia terias que vir a deixar.
uma paixão desequilibrante.
profundamente desequilibrante.
que te viria a maltratar, humilhar, desprezar, abandonar.
um trabalho que ainda te dava prazer, mas que te viria a dispensar.
relações perdidas, desamadas, que agarravas desesperadamente, pedindo apenas um pouco de amor.
que nunca nenhuma te deu.

vi-te chorar. dias a fio.
a tua filha viu-te chorar dias a fio.
vi-te dormir, tardes seguidas depois de a ires buscar á escola, enquanto ela se entretinha sozinha na minha sala.
vi-te dormir no carro, enquanto ela esperava que o pai a fosse buscar.
vi-te sair as 2h, 3h, 4h, da manha, para ires ter com quem não te merecia.
e ela ficava a dormir com a avó.
e com a avó ficava enquanto dormias no dia a seguir.
e vimos-te chorar, novamente.

E vi-nos ás duas a afundar-nos numa tristeza profunda.
incapaz de nos ajudarmos.
atendi-te o telefone vezes demais, enquanto atravessavas a ponte do douro, a dizeres que não querias mais viver.
ouvi-te arranjares as mais variadas desculpas para ires viver para outros países.
vi-te desequilibrada. carente. infeliz.
vi-te num desamor tão grande tão profundo.

mas vi-te sempre também a despedires-te da tua filha ao telefone com um "a mamã ama-te muito"
em que me faria questionar se estria a dar ainda a novela da sic.
nunca vi a minha mãe a chorar. ou foram raríssimas as vezes que a vi. mas nunca me disse que me amava muito. nunca.
vi-te dormir com a tua filha vezes sem conta abraçada a ela. e a dizeres que aquilo era o melhor do mundo.
ouvi-te, sempre, em qualquer situação, pedires, para no caso de algo te acontecer, para a gente dizer á tua filha que ela era a pessoa mais importante do mundo para ti. E que por ela tu morrerias.

Eu sei disso. eu acredito nisso.

E sei que tu és um M de mãe, um M de mulher e um M de marida como ninguém.

mas és um M com uma asa maior do que a outra. E quando voa.... alto, e rápido... desorienta-se....

Olha para ti agora.
és amada. por um homem como mereces ser.
és amada pelos amigos. que te respeitam. que te admiram.
que te dizem a verdade, porque acreditam, sinceramente, que ela no fundo te faz bem.
tens uma filha que está a aprender a conhecer a mãe.
a criar laços novos.
baseados em coisas novas. em coisas fortes. seguras.
baseados em risos e alegrias.
tens um trabalho onde és admirada. onde gostas de fazer o que fazes. onde te tornas independente.
tens uma capacidade de pôr o mundo a girar, como ninguém.
de te movimentares.
de nos movimentar.
tens um coração do tamanho do mundo.
uma disponibilidade.
um sentido de humor.
uma energia que nos mantém acordados.
não desistes. não te cansas.
lutas como ninguém.
a tua filha só pode ter o maior orgulho na mãe que tem.
eu tenho.
na marida. na amiga. na mulher. e na mãe que agora és.
eu tenho o maior orgulho em ti.

Ainda tens todo o tempo do mundo.
pega nessas asas e voa.
voa porque é bom. porque faz bem. porque é preciso.
mas voa com cuidado.
voa baixinho. sobre a cidade.
sempre a olhar pelos teus.
não vás para as nuvens.
lá, perdes-te.
lá, és infeliz.
estive lá contigo.
e vi-te.
acredita em mim.

a marida ama-te muito.
isto também parece saído de uma novela.
mas não. aprendi contigo. não cai nenhum bocado, dizer o que se sente.



3 comentários:

parraxita voadora disse...

E os meus olhos incharam outra vez... pelo teu texto tão bonito...

Sim, zanguei-me contigo por me dizeres a verdade... mas não foi um zangar verdadeiro, não queria que me tivesses dito aquilo...

No entanto precisava que me tivesses dito, não porque não soubesse mas porque nunca tinha escutado de ninguém...

Falaram-me tantas vezes, gritaram tantas vezes comigo e eu nunca quis ouvir.

Eu também te amo muito e sem ti nunca teria sobrevivido,... por momentos estive em desespero absoluto.

Obrigada minha marida

Ms D. disse...

Pior que a novela da sic é o Heterosbianismo que por aqui anda! Marida? Marida?
Já voltavam a tomar os medicamentos não? Isso ou uma injecção contra o tétano que dói mais!!!













Ps. Desculpem-me mas se for a falar mesmo do texto vou por-me aqui com choraminguices e isso já tenho de sobra...

banana disse...

Ms D, Viva choraminguices. Para isso servem as galochas. Se os teus pés levitam dentro de umas das nossas MERRELL (tuas ligeiramente maiores...), espera para chorares mais tarde.

Quanto ás maridas... que te posso dizer... casa, separa-te. compra uma casa nova. a tua primeira. vai para o tango. conhece uma parracha. num espaço curto de tempo tens cuecas fio dental penduradas no bidé, a secar, que não são tuas (infelizmente), dormes todos os dias naquela cama gigante que compraste só para ti, com um corpo fininho e uma cabeça cheia de caracois compridos ao lado, que gosta de dormir praticamente como deus a pôs ao mundo. Nos dias frios chegou a dormir abraçada a mim. lavava a loiça, cozinhava. serões no sofá a ver novelas debaixo da manta e a falar de banalidades. onde uma ia, lá ia a outra. qual mulher e marida. Se isto não é uma marida, o que é? falta o sexo. Sim. Mas, quantos casamentos há com sexo? :)

Quanto á parte do lesbianismo... se fosse para ter despertado algo em mim, teria sido naquela altura.
Definitivamente da-me mais pica uns pêlos de barba acabada de fazer no lavatório, o tampo da sanita levantado. a loiça por lavar ao molho junto com a minha. os abraços á noite na cama gigante vindo de um homem de braços fortes.

Tirando isso. A marida foi perfeita :)