bonjour tristesse

não fui eu que escrevi.
nem ninguém que eu conheça.
mas é meu.
veio de um jornal. não assinado. da mão de uma amiga. irmã. companheira de uma vida. de caminhos. encruzilhadas. silêncios. gritos. choros. e risos.
há muitos anos atrás.
foi copiado vezes sem conta de caderno em caderno, ao longo dos anos, ao longo das histórias.
pode já não ser assim, mas é assim que ele é para mim agora.


Bonjour tristesse

só sei desta tristeza
deste cansaço que há em mim
que me deixem comigo assim
que eu hoje estou assim. comigo.
que isto há-de passar.

e depois, cansada de embalar este sentir
irei deitar-me um pouco ao pé de ti.

hoje é um desses dias

há dias em que sou tão, tão, tão feliz.

o meu coração parou

o meu coração parou.
já estava cansado.
tão, tão, tão cansado.
de tanta dor. de tanta tristeza. de tanta morte de mim.
de amar tão incondicionalmente.
um amor diferente.
tão diferente dos outros.

não era um amor daqueles de uma mulher para um homem.
já não era um amor desses há muito tempo.
talvez porque num amor desses ninguém tenha de abdicar de si. para cuidar do outro.
mas um amor.
tão grande.
tão prioritário.

tão estupidamente prioritário.

O meu coração parou
um coração não amado.
não da forma que queria ser.
que devia ser.

não respeitado.
não ouvido.
não protegido.
não admirado.
não reconhecido. não conhecido.

mas agora o meu coração parou.
finalmente.
este coração parou.
este que bate há mais de dez anos.

resta-me limpar as partes que ficaram presas na alma.


este coração não voltará a bater.
não este.








Ms D

imperdoável o meu engano.
imperdoável a minha falha.
uma letra transforma a liberdade na maior das prisões.
transforma aquela que tem os braços abertos para a vida, na que está de costas voltadas para o novo.
uma letra tirava-te certamente de nós.
e levava-te para uma só pessoa.
pelo menos por muito mais tempo.
Ms D.
agora Ms D.

e só Mrs D. quando aparecer um r bem grande e que justifique e mereça.