a minha mãe

os olhos da minha mãe eram castanhos. que com o sol se tornavam verdes. castanhos. toda a minha vida foram castanhos.

ontem ao olhar para a minha mãe não lhe encontrei qualquer cor no olhar. já não foram os cabelos brancos que me entristeceram, ou o ar cansado com que se movimenta. já não foi um sofrimento latente no rosto, por a vida estar a passar. não. tudo isto ontem não me entristeceu. porque essa é uma tristeza já minha.

ontem, o que me entristeceu, foram os olhos. sem cor. mais um sinal da vida. sinais tão tristes da vida.

casa a arder

tenho muita dificuldade em gerir a maquina que controla a minha cabeça.
nem sei ao certo quantas tenho. uma só, sei que não é.
não pode ser.
um dia, vejo-me paciente, quieta á espera do meu amor.
outro dia, esta casa onde habito incendeia-se e não espero por nada.
deixo todas as janelas e portas abertas, deixando entrar quem me espera.

dias como este, em que o consumo de qualquer droga é tão obvio que nem me lembro de a ter tomado.
vejo mil braços á minha volta. que me agarram e prendem e não me deixam ir.
e eu não quero.
ir a lado nenhum.

o silencio do telefone

o silêncio do telefone da-me uma tranquilidade...

caminhos errados

tantas foram as coisas que fiz,
carregadas de dor e de tristeza tão insuportaveis,
sempre tão crente de ser o único caminho,
para que tudo ficasse bem.

mas não...

mentiras

no fundo tudo se resume a isto....
acho sempre que tudo é mentira.

e é.

que merda

que venha qualquer coisa que me atire para um lago gelado e me acorde o corpo
que a lenha arda á minha volta e me queime.
façam da minha cabeça um tambor de uma máquina de lavar roupa.
e liguem-na. e centrifuguem. no máximo.
enfiem-me num quarto escuro onde eu não suporte o medo e tirem-me um minuto antes de eu morrer.
atirem-me de uma ponte, presa a um elástico.
acordem-me a merda desta alma
façam-me o sangue circular nas veias.
deixem-me conseguir sentir o meu corpo.
abram-me os olhos.
deixem-me respirar.
e sentir.
que merda estes dias todos tão iguais.
tão iguais de tudo.
tão iguais de mim mesma.

nunca

nunca tires conclusões sobre o que lês.
principalmente sobre o que escrevo.
nunca tires conclusões sobre o que ouves
principalmente sobre o que eu digo.
nunca tires conclusões sobre lágrimas ou sorrisos
principalmente se forem meus.

eu não sei quem sou.
não sei o que sinto.
nem sei se quando sinto
não estou a inventar.

não tentes ler a minha mente
nem os meus silêncios
nem os meus gritos

aquilo que mostro hoje
pode ainda ser fruto
de algo do passado
que já nem eu me lembro.

dança comigo

apenas encostava a cabeça
ao teu ombro.
os teus braços conseguiam-me abraçar
e eu era novamente pequena
a tua respiração
aquecia-me a alma
quando encostavas a tua cara á minha.
não havia uma parte de mim que estivesse sozinha.
eu estava em ti.
musicas minhas
e também tuas
faziam-se ouvir
e entravam-nos no corpo
naquele abraço apertado
voávamos em danças
que nos levavam do mundo.

saudades

que pena.
que as saudades que tens minhas
não sejam as suficientes
para me procurares.

que pena
que provavelmente já nem tenhas saudades.
e já nem te lembres.