voltei

infelizmente voltei.
com mais uma tristeza em mim.
e culpa minha. como sempre.

malditas asas que teimam em abrir..... sozinhas

palavras...

as palavras mais bonitas do mundo de nada me servem se só me dás o que tens de mais feio.

largo-te

faz tanto tempo que não venho aqui falar-te de mim...

que bom.

ela voltou. cheia de samba.

ela é uma nuvenzinha de um vento quente quando o que apetece é estar sentada na areia a olhar o mar de novembro.
ela é o silêncio ao nosso lado enquanto se ouvem as ondas nas rochas ou as gargalhadas, as histórias, os sonhos, embrulhados nos pés descalços na areia.
ela é uma menina muito pequenina que apetece guardar na palma da mão e cobrir com uma bola de algodão. e proteger. mas também se transforma. e cresce. e as pernas se esticam e dança e salta como ninguém. e os braços se transformam em asas e sai a voar mais alto que os pássaros, os aviões. ou em barbatanas e mergulha no mar, nos rios, nos lagos, e agarra-se nas baleias, nos golfinhos, e segue-os atravessando os oceanos.
ela não é uma menina assim. como uma menina qualquer.
ela é uma bola de fogo e luz quando estás profundamente perdida na noite e no escuro e as pernas não se mexem de tanto medo e frio.
ela é aquela musica que te apetece ouvir e sair a dançar pelas ruas, quando acabou de chover e ainda sentes o cheiro a terra molhada.
ela é a aquele sorriso que te sai da boca. sincero. genuíno. automático. só porque ela aparece.
ela é a ventania que te arrasta as poeiras da alma. e do corpo e te faz levitar. no meio dos amigos. na vida.
ela é o descanso no sofá, depois de um dia de trabalho.
o abraço apertado quando não precisas de mais nada.
a casa.
o colo.
ela é o nosso silencio.
o nosso riso.

bendita concha que ela tem.
para onde vai de quando em quando.
sozinha.
refazer-se.
repor-se.

mesmo nessa altura
tudo o que ela nos deu
permanece.
e sabemos
que ela volta.

como eu gosto de ti. e que saudades tinha tuas. minha menina que é um doende que gosta de estar descalço á beira do lago.

que força é essa amigo

será que é o sol que me entra na pele, entranha o corpo, até ao interior da minha terra?
serão as ondas que por olha-las e ouvi-las da forma que as olho e ouço me penetram na cabeça, me centrifugam o cérebro, e me voltam a largá-lo á beira-mar quase morto de tão vivo?
será o vento que me levanta os pêlos, abre os poros, as entranhas, me arrepia a pele, me puxa o cabelo, me afaga, me abraça?
entro em casas que foram minhas, vejo camas onde dormi abraçada, sofás onde me aninhei nos braços de quem amei. e vejo casas que já não sinto, roupas que não são minhas, e que já não me entristecem, e que já não me fazem nada.
não há uma tristeza. não há um peso. não há uma angustia. não há nada.
que força é esta. que força tenho. quem sou eu.

o regresso ao passado tão presente

não foi pelo sol que só lisboa tem, mas também foi.
ou os morangos e a manga e outra fruta que não me lembro, comprados na frutaria ali do bairro
pela rapariga dos óculos novos
tão na moda.
não foi só pela esplanada do amigo de outras histórias
com crepes de espinafres roubados da rua
em budens, de um algarve tão fora de todo o algarve.
ou as tostas aconselhadas de frango ligeiramente picante e aqueles cogumelos com um molho onde o pão mergulhava como um puto feliz na piscina do município.
não foi só por o ricardo araujo pereira a ter chamado e afinal nem la ter estado para a receber,
e ter mandado outro, também simpático para se pendurar nos postes enquanto ela me passeava na alma.
e eu, e o seu amor. ou o pássaro, como ela lhe chama, de asas grandes, que escolheu agora pousar, termos ficado ao sol. os dois. com conversas nossas. com planos, e marcações, e histórias, e momentos tão nossos. que me encheram. que me compensaram uma neve que não chegou a cair. por parvoíces. fraquezas. dúvidas.
não foi só por isto. Porque isto eu consigo escrever. e depois de ler, isto não é nada, perante tudo o que fez tudo isto valer tanto a pena.

e quero voltar.
não por isto.
mas porque me prometeram um pão especial feito em casa numa máquina nova.
e porque um dia, um novo membro de 4 patas também vai ocupar o seu espaço.
e até lá nós ainda temos de ir aos açores.

corpo dormente

corpo dormente
corpo adormecido, parado, quieto, estagnado...
talvez.
o corpo.
para se libertarem as mãos.
para se libertar a mente. a alma.
em toda a sua plenitude.

obrigada pelos "jornais que leio na esplanada ao sol"

vendo-me

chego da neve com uma companheira de silêncios como eu.
fomos duas, como pudéssemos ter ido uma. mas com companhia.
dias de paz. de beleza. de silêncios.
dias de encontros comigo.

hoje, no meu regresso, vendia a minha alma.

não sei o que fazer a tanto




ultima noite.
que significa apenas que amanha será o dia de partida.
espero ainda acordar cedo e voltar a subir a montanha.

hoje, depois de subir, e continuar a subir
de skis ainda nas mãos
com aquele andar que faz lembrar a lua, de pés muito pesados
a caminhar sobre a neve
com um nevoeiro cerrado
o branco eterno á minha volta
aquela sensação de que mais um passo ao lado e ninguém nunca mais me via.
nem eu nunca mais via ninguém.
um misto dentro de mim
que me leva aos extremos
que me deixa a flutuar de prazer e com o maior nó na alma da maior das angustias.
senti que tudo aquilo é tão demais para mim.

eu tenho neve nos cabelos

o meu topo do mundo


não é só o branco. a névoa. a luz.
não é só a tranquilidade fora do meu normal.
nem esta beleza que me chega a doer cá dentro.
não são só estes pequenos paraísos perdidos no meio das montanhas.
não é só a capacidade que tenho em sair de mim quando estou aqui.
não é só o sentir-me no topo do mundo.
do meu mundo.
é sentir também
que agora é impossível sentir mais.